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Fiquei sentado à beira da cama até ter a certeza que tinha adormecido.
Enquanto se enroscava nos lençóis com uma inocente e delicada expressão de felicidade, levantei-me e saí em bicos de pés. Não podia estragar o momento...
Encostei a porta atrás de mim, dirigi-me à secretária, movimentei uma pilha de papéis com o maior dos cuidados, para não fazer barulho. Voltei a pegar no livro.
Outra vez aquela sensação... Que livro estranho.
Abri onde o tinha deixado. Estava tudo na mesma, com aquele estranho texto que me tinha escapado da primeira vez.
"Olhei mas não vi... só pode ter sido isso..." - pensei para mim, tentando justificar.
Virei a página. Mais texto...
7.º, 09 de Abril de 2007, 18:01
... dou por mim a fazer as coisas mais banais como se me estivesses sempre a observar.
8.º, 09 de Abril de 2007, 19:48
... cada vez que aquele telemóvel vibra, pareço um puto a correr para ir desembrulhar prendas no natal.
9.º, 10 de Abril de 2007, 12:28
... às vezes me cheira a ti. Um aroma vindo do nada, mas que vale tanto...
10.º, 10 de Abril de 2007, 18:44
... quando tenho fome, penso em comer-te.
11.º, 16 de Abril de 2007, 08:08
... pode haver pessoas bonitas... mas tu és linda.
12.º, 16 de Abril de 2007, 23:58
... tudo o que seja mais do que 10 metros entre nós já é demasiado longe para ser confortável.
13.º, 18 de Abril de 2007, 04:20
... tens a boca mais bonita que alguma vez vi.
14.º, 19 de Abril de 2007, 20:00
... outrora foste apenas notas soltas. Agora és melodia.
15.º, 19 de Abril de 2007, 21:30
... me mudaste.
Senti a presença de alguém... apressei-me a fechar o livro.
"Pssst... volta p'rá cama..."
A sua voz ensonada teve um efeito magnético.
Enquanto me deslocava de volta para o quarto, mil hipóteses competiam desenfreadamente para explicar aquele livro... Com aqueles textos... Tantos anos depois...