sábado, outubro 21, 2006

Aos bocadinhos...

Se é verdade que todos os dias damos um passo para a morte, hoje dei dois.


Tinha acabado de fazer "as malas" quando fui ao quarto de banho para pegar na toalha e vir embora. Aproveitei para lavar os dentes.
Assim que abri a gaveta e peguei na escova o tempo parou.
Morri um bocadinho.

"Tenho que ir lá a casa buscar a minha outra escova" - pensei...

O que senti depois foi algo de tão estranho que o mais próximo que consigo descrever é a semelhança com aqueles planos dos filmes, em que é feito zoom ao ponto de foco e tudo o resto se parece afastar. Senti a gravidade puxar-me com mais força. Senti-me impotente e conformado.
Morri um bocadinho.

A relatividade do tempo encostou-se a mim e deu-me duas palmadinhas nas costas.

"Ofereço-te este instante... ofereço-te este instante para que possas sentir."


Já to tinha dito antes... já te tinha dito que não acreditava mais... mas só hoje o senti.
E morri um bocadinho.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Smoke and mirrors

Hoje sou um espectro.
Sou pálido e sou vazio.
Sou uma espinha atravessada, um caroço de sarcasmo que sorri e pisca o olho.
Sou uma parede invisível, contudo intransponível.
Sou o som do cristal partido que ecoa pelos corredores de uma casa abandonada como um grito de desespero abafado pela distância de quem não quer ouvir.
Sou o novo e o velho, o princípio e o fim.
Sou o ódio que escapa entre palavras meigas, sou uma acção sem consequência.
Sou uma sombra num dia encoberto.
Sou um reflexo sem origem.
Sou uma ilusão...


... e tenho vergonha do que te faço.