sexta-feira, julho 14, 2006

Triunfo sobre a vida

Só há uma coisa que mudaria na minha vida: o facto de ter que trabalhar ao fim-de-semana, quando supostamente seria pra eu descansar. Mas o dinheiro não cai do céu, e as facilidades que tenho (ou dificuldades?), têm que ser obtidas com algum trabalho. Há dias, quando estava a trabalhar no restaurante mais o meu pai, porque a empregada estava de férias, e porque mais uma vez, os meus primos de coimbra querem é borga, e como eu estou "mais á mão", acabo por ser sempre chamado. Mas tudo bem. A parte boa de trabalhar lá, é poder ser o único tempo que passo de qualidade com o meu pai, por isso, chamem-me pra trabalhar quando quiserem. Ainda não te conheço a fundo Pai, mas quero estar contigo sempre :)
Ainda não era hora de almoço, e faltava alguma fruta na travessa onde está exposta, e ele disse pra ir num rápido ao super-mercado. Ok.
Tiro dinheiro da caixa, e vou descendo a rua principal abaixo, cruzo-me com algumas caras familiares, vou cumprimentando e... olha, é já aqui: Mathias ou lá o que é...
Siga! Antes de entrar já se ouvem os *beeps das registadoras a facturar...
Entro e vejo na registadora a Cláudia.
A Cláudia era uma rapariga extremamente popular no ciclo, e tinha sempre gajos a dar com pau, e sempre gente á sua volta. Para a conheceres, tinhas que conhecer já alguém do grupo, senão, estavas tramado.
Não nunca me interessei por ela, cruzes credo! Não gosto de Barbies, embora seja isso que atrai a sociedade hoje em dia. Mas pronto. Ela até era gira, nada que me faça suar, ou corar muito menos. Acho que nunca gostei muito do que toda a gente gosta. e por isso mesmo, nunca fui muito de entrar em euforias por causa dela. Ela tinha madeixas loiras naturais, o que deixava o pessoal maluco, e pronto, prá idade que tinha, já tinha um corpo bastante definido. Lembro-me que ela começou a andar com alguém bem mais velho que ela. ele tinha um ar de arruaceiro, um ar de verdadeiro chulo. Não o conhecia e não me interssava conhecê-lo. Ninguém queria tão pouco. Ele ia buscá-la e levá-la de carro á escola, um carro a caír aos bocados, mas na nossa altura do ciclo, quem é que tinha um namorado(a) que nos fosse buscar e levar?
Um acto de puro exibicionismo.
Lembro-me uma vez que fui com a minha mãe ao intermarchê e cruzámo-nos num corredor, onde estávamos só nós. Cruzei-me com ela, ela ao inicio mostrou-se desinteressada, claro, como qualquer rapariga que tenha um ego do tamanho do mundo. Que é que foi? nós víamo-nos todos os dias na escola, porque é que não haveria de dizer olá? eu não sou mal-educado, tenho princípios e boa-educação, e então, quando nos cruzámos disse: "Olá"
Ela, lá no seu alto pedestal, olhou pra mim, de seguida olhou pra mim de alto abaixo, como que á procura de roupa de marca, sinal de que a podia sustentar. Tiveste azar. Eu não visto marcas.
Ela optou por ignorar, pensando: "O que é que este quer?"
Eu sabia que ela sabia quem eu era. Infelizmente, toda a gente sabia no ciclo que a minha mãe trabalhava lá e que eu era filho dela. Professores e Alunos. Conhecidos e Desconhecidos. Qualquer asneira que eu fizesse, podiam não me conhecer, que era logo "O Filho da Dª Odete" Felizmente, eu sempre soube saír bem dessa (des)vantagem, que tinha os dois extremos, já o meu irmão, não se pode gabar do mesmo, visto que os colegas continuam a fazer o relatório da vida dele á minha mãe.
Mas nunca fui popular, não da forma dela. sempre tive o meu grupinho de amigos que foram crescendo comigo desde puto, e sempre os fui mantendo bem perto de mim. claro que há sempre uma ou outra pessoa que entra nesse grupo, e é sempre bem-vinda. Mas nunca tirei partido disso. Não precisei também. Rodeei-me de pessoas que não são interesseiras pra comigo. e isso basta-me. Nunca guardei facturas dos amigos que tenho, porque nunca os comprei.
De qualquer forma, a Cláudia decidiu seguir em frente. Eu como também nunca precisei dela pra nada, segui em frente também...

Escolhi maçãs, laranjas, e alguns pêssegos. Dirigi-me á registadora pra pagar, e ela atendeu-me sem olhar pra mim. No fim, quando pede o dinheiro, olha pra mim, sorri como se tivéssemos sido grandes amigos outrora e nos tivéssemos re-encontrado e pergunta: Olá! Não sabia que eras tu! Então, tá tudo bem contigo?

olho pra ela, mas não muito.

Recolho o meu troco da mão dela, viro costas, e venho-me embora sem uma única palavra solta da minha boca.
Desta vez sou eu que sigo em frente.
Fica bem Cláudia...

António José Trindade

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