segunda-feira, março 10, 2008

Guarda-chuva

Aproximei-me dele enquanto fitava a cúpula celeste nocturna. O céu estava limpo, limpo como já não estava há muitas vidas atrás.

- Que olhas tão atento, pequeno pinguim?
- Não gosto daquela estrela...

Segui a sua cabeça e olhei o céu.

- Qual delas?
- Aquela...
- Mas... São tantas, porquê aquela?
- Não gosto como brilha sobre ti...

Baixei a cabeça e olhei-o enquanto continuava imperturbável, obcecado com aquela pequena estrela.

- Mas foi ela que me ensinou a andar, que me guiou até aqui... Até ti...
Não seríamos amigos se não fosse ela...
- Não interessa... Quero tirá-la do céu - disse, tremendo com a voz. - Não
quero que brilhe mais sobre ti.

Sentei-me a seu lado e abri o guarda-chuva.

- Já está...
Olhou-me espantado.

- Ma...
- Shhhhh...
Antecipei-me à sua incapacidade de contestar.

- Trouxe-me até aqui. Ensinou-me muitas coisas. Deixa-a continuar a brilhar...
... Eu só me vou embora quando tu quiseres.

E ali ficámos, debaixo do guarda-chuva, abanando as pernas à beira da falésia...
... em silêncio até ao amanhecer, olhando as estrelas.

O céu estava limpo... limpo como já não estava há muitas vidas atrás.

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